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Isolde

O homem está fadado ao amor e à dor

Morte

Não há novidade alguma em extinguir-se, não é mesmo?

 

As estrelas erram no infinito e acabam derruídas sobre si mesmas. Caem como relâmpagos desferidos ao próprio ventre.

 

Novidade se faz entre os vivos – nós outros, que seguimos a dura peregrinação sobre a Terra dos Homens. Proclamamos a dor da perda e nos consolamos.

 

Registramos em pesados livros a súbita sentença da vida: a morte. Senhora eminente, soberana, pesa o cetro fatal sobre todos nós.

 

Só a fé nos redime, queridos amigos. Só a fé inabalável de que a morte pode nos livrar de tudo que nos toca; mais do que isso não!

Compaixão

Os homens dão ao lume as obras mais belas. Como se pudessem cravejar na noite escura as chamas efêmeras de suas paixões.

Hoidobro

Lembrei-me de você, querida, quando relemos o poema de Vicente Huidobro naquele café memorável. Ele estava nas coisas – nas árvores, nas pedras… estava já em nós, no abismo que se fez de nossa cumplicidade.

 

Reclamam a linguagem do poeta para expressarem-se; o escriba a deles para manifestá-las. Eis um grande equívoco – “atroz equívoco”! – adverte o poeta. “Es doloroso y lleno de ternura” o deixar-se transformar na ausência absoluta de linguagem e de sentido. Há que se guardar silêncio; estar em silêncio.

 

Querida, quantos modos de presença experimentamos nesta jornada pela Terra dos Homens? Acordamos o timo com a nota perfeita; despertamos a agulha sensível que acusa a presença de memórias arcaicas. Vivemos em nós, tingidos do pó essencial, enovelados numa trama inexpugnável – manto sagrado das estrelas que guarda o mistério de nossas vidas.

 

Não me explico. Não se explique. Nada do que é certo entre nós reclama um ai. No silêncio somos como as pedras e as árvores de Huidobro. “Es doloroso y lleno de ternura”!

Providência

Como ser ordinários diante da beleza venerável dos encontros e desencontros? Como expressar as palavras que não podem ser ditas? Nossos sentimentos elevam-se além das estrelas e se encontram numa ancestralidade não nascida. Eu estou aqui, querido.

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